Pregação = Vida

... temos como missão particular o múnus profético, pelo qual, 
tendo em conta as condições das pessoas, dos tempos e lugares, 
se anuncia o Evangelho de Jesus Cristo por toda a parte, 
pela palavra e pelo exemplo...
Constituição Fundamental, V

A propósito de um debate que tivemos depois do jantar, ficou-me a pergunta: «O que é a Pregação? Como se realiza? Com que meios?».

Já citei várias vezes aquela história de S. Francisco e de um irmão que saíram a pregar. Foram dar um passeio e voltaram ao Convento. O irmão, entristecido, perguntou a Francisco se afinal não iam pregar e ele respondeu: «Já pregamos!». É conhecida a história...

Pregar significa, para mim, dar voz ao Evangelho. Fraco é o pregador que prega Doutrinas ou Direito Canónico, assim como é mau pregador aquele que fala de tudo, excepto do Evangelho. 

Antes de mais, a pregação desenvolve-se a partir da experiência do pregador. E isso nota-se: quando uma pregação tem muitos «Devemos», «Podemos», «Temos de...», «Se não fizermos...», é sinal que a pregação não vem do coração, nem da vida. 

A nossa constituição fundamental é muito certeira ao afirmar «pela palavra e pelo exemplo». Isto é, a pregação é coerente com a vida de quem prega. Por exemplo, só se pode pregar sobre o jejum se o cumprimos, caso contrário podemos exortar ou apelar. 


Na minha primeira pregação aqui em Lisboa, calhou-me um texto difícil dada a vida e os momentos em que se vivia. Quando vi o texto, disse ao superior que seria difícil, para mim, pregar sobre aquele tema. Mas tive de o fazer... tentei não ser moralista, mas apontando precisamente a capacidade, naquele caso, a capacidade do homem para perdoar e amar. É um exemplo...

Assim, a nossa pregação é fazer eco do Evangelho, sobretudo com a nossa vida e exemplo. Senão, cai-se naquele ditado conhecido: «Que bem prega Frei Tomás: faz o que ele diz, mas não o que ele faz!». 

Mas cuidado, é uma tentação comum e um desvio comum. A propósito disto, cito uma homilia do Papa Francisco, proferida no dia do Bom Pastor, numa missa em que ordenou novos padres para a Igreja de Roma. Podem ler na íntegra Homilia do Papa Francisco - 7 de Maio de 2017. Eu destaco:

«Por conseguinte, seja alimento para o Povo de Deus a vossa doutrina, simples, como falava o Senhor, que chegava ao coração. Não façais homilias demasiado intelectuais e elaboradas: falai de maneira simples, falai aos corações. E esta pregação será verdadeiro alimento. E seja motivo de alegria e de amparo aos fiéis também o perfume da vossa vida, porque a palavra sem o exemplo da vida para nada serve, é melhor voltar atrás. A vida dupla é uma péssima doença, na Igreja. Vós continuareis a obra santificante de Cristo. [...]
Por conseguinte, reconhecei o que fazeis. Imitai o que celebrais para que, participando no mistério da morte e ressurreição do Senhor, leveis a morte de Cristo nos vossos membros e caminheis com Ele em novidade de vida. Um presbítero que talvez tenha estudado muita teologia e obtido um, dois, três diplomas mas não aprendeu a carregar a Cruz de Cristo, não serve. Será um bom académico, um bom professor, mas não um sacerdote.»

Creio que o texto é suficientemente claro e dispensa qualquer comentário. 

A Pregação exige a nossa coerência de vida, em todos os sentidos e de todas as formas, exige que dêmos o exemplo, com a nossa vida, do que anunciamos e pregamos. Ser pregador é encarnar o Evangelho na vida do dia-a-dia... faça-mo-lo. 

Pax Christi!

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