Adeus e Reencontro

In memoriam... 

Porque a morte tem o seu tempo
A ruína soma ruína, à cabeça
Equilibra a existência desmoronada e inteira.
Tu és o que edifica
Tu constróis mil vezes.
Porque o raio tem o seu tempo.
És o clarão, a lâmpada, a estrela
Somas luz à luz.
Não és a luz, és mais que a luz
Porque a noite tem o seu tempo.

Daniel Faria


«Querido e preclaro amigo Pedro,
Hoje é o teu dia de anos. 

Hoje, se cá estivesses, terias sido acordado à meia noite para te cantarmos os parabéns, a coisa que tu mais odiavas.

Li, há algum tempo, um texto que que afirmava que o «Adeus é um rasgão que procura restabelecimento de uma continuidade» e, ainda, que «onde há ruptura brotam as emoções». Eis o que nós, teus amigos, sentimos. Sentimos que o vazio que ficou é frio, estranho, cansativo de não termos uma mensagem tua, um texto teu, um poema digitalizado... 

Hoje, é o dia do teu aniversário! Onde estás tu para podermos festejar?

Lembras-te da Capela onde te converteste? Onde, em lágrimas, disseste: «Quero! Eu acredito»?. É onde estamos, mas... onde estás? Onde estás para podermos celebrar? Onde estás, meu amigo?
Ali te baptizaste e eu fui uma testemunha da tua conversão a este Deus da Vida, a este Deus a quem, todos os dias, dizias: «Obrigado, ó Deus, pela vida que me deste». Mas onde estás tu, hoje, para podermos agradecer o dom da tua vida? 

Hoje é o teu dia de aniversário! Porquê?

Porque não confiaste em nós as tuas dificuldades?
Porque guardaste para ti e só para ti os problemas?
Porque te deixaste sucumbir ao peso da Cruz?
Porque não confiaste nos 'Sireneus' - figura que tanto admiravas - para te ajudarem?

Hoje é o teu dia de aniversário! Onde está o teu sorriso?

Sempre que falamos em ti, lembramo-nos sempre do sorriso fácil e sincero, sem ironias, sem sarcasmos, mas um sorriso confortante, de confiança, de disponibilidade. Onde está, agora, esse sorriso? Como nos podemos rir contigo novamente?

Hoje é o dia do teu aniversário, mas morreste(-nos)!
Geralmente, quando morre alguém, dizemos: «Morreu fulano!», mas quando morre alguém de quem gostamos dizemos: «Morreu(-me) um amigo», «Morreu(-me) o meu pai». Tu, mais que ninguém, sabes destes preciosismos linguísticos que tanto discutíamos... 
Mas, o mais importante é que, quando alguém próximo morre, é um pedaço de nós que morre com ele. Morreste(-nos)!
 [...]
E que podemos, agora, fazer? 
Podemos lembrar-te sempre como o fazemos agora...»

Há uns três meses, um amigo, doutorando de Filologia e Literatura, faleceu. Nós, amigos dele, preparamos uma obra - ainda que para consumo interno - em que reunimos os seus textos, sobretudo textos em que nós, seus amigos, estávamos citados. Eram, sobretudo, pequenos textos que ele nos mandava e que, com frequência, escrevia quando estavamos todos juntos ou quando alguém fazia anos. 

A mim pediram-me para escrever-lhe uma carta que servirá como um pórtico para o restante livro... Publico, aqui, uma parte da carta - a carta completa tem 6 páginas - já que hoje foi publicado na e-book e, ainda hoje, será apresentado no nosso grupo, na presença de alguns familiares. E aproveito a dica para, mais uma vez lhe fazer uma sentida homenagem.

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