Ó admiravel e suave Mistério...

Eu vos adoro devotadamente, ó Divindade escondida,
Que verdadeiramente oculta-se sob estas aparências,
A Vós, meu coração submete-se todo por inteiro,
Porque, contemplando-vos, tudo desfalece.

A vista, o tacto, o gosto falham com relação a Vós
Mas, somente em vos ouvir em tudo creio.
Creio em tudo aquilo que disse o Filho de Deus,
Nada mais verdadeiro que esta Palavra de Verdade.
  
Senhor Jesus, bondoso pelicano,
Lava-me, eu que sou imundo, no teu sangue
Pois que uma única gota faz salvar
Todo o mundo e apagar todo pecado.

Ó Jesus, que velado agora vejo
Peço que se realize aquilo que tanto desejo
Que eu veja claramente vossa face revelada
Que eu seja feliz contemplando a vossa glória. Amem.


São Tomás de Aquino, OP

Hoje, depois do almoço, num ambiente calmo, fraterno e de diálogo onde todos falamos e escutamos, dois confrades falavam sobre a importância das lendas. E, depois de falarem do contributo dos Dominicanos para a Igreja, um deles contava a lenda em que São Tomás de Aquino teria sido enviado para investigar um Milagre Eucarístico, em Bolsena.

Feitas as averiguações devidas, concluiu-se que o milagre era verdadeiro. Isto em 1263. Urbano IV, Papa, ao saber deste milagre, pôs-se a caminho de Orvieto para venerar tais relíquias. Findas as procissões, o Papa terá pedido que se compusesse um Ofício para assinalar a dita celebração milagrosa. Foram chamados S. Boaventura (Franciscano) e S. Tomás (Dominicano) para o compor. 

Diz-se que, durante este tempo de composição, Tomás de Aquino terá obtido o privilégio de ter, no seu próprio quarto, um Sacrário com a Eucaristia para que melhor pudesse contemplar o mistério e, assim, melhor escrever o que contemplava. 

Posto este tempo, perante o Papa, compareceram os dois santos mendicantes para apresentar o seu trabalho. São Tomás foi o primeiro e terá começado a declamar os hinos compostos. O santo franciscano, ouvindo a beleza daquelas palavras, começou a rasgar tudo o que tinha escrito.

A Festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo foi tornada oficial pela Bula Transiturus de Hoc Mundo, a 11 de Agosto de 1264, estendendo-se a toda a Igreja Católica, assim como o Ofício que São Tomás compôs. 

São João Crisóstomo, nas suas Homilias sobre São Mateus afirma que a maior relação do Corpo de Cristo com a vida da Igreja é que ela reconheça no pobre, no marginalizado, no refugiado, nos mais necessitados do nosso tempo o Corpo de Cristo, pobre e humilde. Assim, ele afirma:

«A Igreja não é um museu de ouro e prata, mas uma reunião de anjos. Não era de prata, na última ceia, a mesa, nem o cálice em que o Senhor deu aos seus discípulos o seu próprio sangue. Pelo contrário, que precioso era tudo aquilo e que venerável, como que estava cheio do Espírito Santo! Quereis honrar de verdade o Corpo de Cristo? Não consintais que esteja nu.» (Hom. 50, 3)

Ao comentar o Evangelho de Mateus, S. João Crisóstomo vai mais além de uma análise teológica e espiritual da Eucaristia. João Crisóstomo faz uma denúncia profética, é como que uma voz que clama, dando voz aos sem voz, procurando estabelecer a relação entre o sacramento da Eucaristia e do pobre como um lugar onde Cristo se manifesta (um lugar teológico). Mas, continua Crisóstomo:

«Não o honreis aqui com vestidos de seda e fora o deixeis perecer de frio e nudez. Ele mesmo afirmou Este é o meu corpo e com a sua palavra afirmou a nossa fé. E disse também Vistes-me com fome e não me destes de comer. E cada vez que não o fizestes com um de esses mais pequenos, também comigo não fizestes. O sacramento não precisa de mantos preciosos, mas uma alma pura; os pobres, pelo contrário, requerem muito cuidado. Aprendamos, pois, a pensar discretamente e a honrar a Cristo como Ele quer ser honrado […] porque Deus não tem necessidade de vasos de ouros, mas de almas de ouro». (Hom. 50, 3)

Este Bispo não critica o ouro das Igrejas (cf. Hom. 54), mas chama à atenção que a par do ouro - com o qual louvamos a Deus - tem que estar a riqueza do serviço, a dedicação, a ajuda aos que mais sofrem. A riqueza não está nas coisas, mas na vida, nas pessoas. Não é o envelope que revela o que lá está dentro ou, em linguagem bíblica, não são os 'sepulcros caiados de branco', bonitos por fora, mas dentro estão cheios de podridão. Deve ser, precisamente, o contrário: o nosso exterior deve revelar o interior.

Mais recentemente, em Fátima, o Papa Francisco, numa breve alocução aos doentes, afirmava: «Amados peregrinos, diante dos nossos olhos, temos Jesus escondido mas presente na Eucaristia, como temos Jesus escondido mas presente nas chagas dos nossos irmãos e irmãs doentes e atribulados. No altar, adoramos a Carne de Jesus; neles encontramos as chagas de Jesus. O cristão adora Jesus, o cristão procura Jesus, o cristão sabe reconhecer as chagas de Jesus. [...] A vossa presença silenciosa mas mais eloquente do que muitas palavras, a vossa oração, a oferta diária dos vossos sofrimentos em união com os de Jesus crucificado pela salvação do mundo, a aceitação paciente e até feliz da vossa condição são um recurso espiritual, um património para cada comunidade cristã. Não tenhais vergonha de ser um tesouro precioso da Igreja.» SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE AOS DOENTES NO FINAL SANTA MISSA (Clicar).

E, por fim, meditemos:


«Quereis honrar de verdade o Corpo de Cristo? Não consintais que esteja nu.» 

Que o nosso louvor seja verdadeiramente completo...

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