O Lugar do Silêncio

Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.

Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto, 1962

Aí escutarás o silêncio. É assim que Sophia define a vida, é assim que Sophia descreve um Caminho da Manhã de tanta gente que, depois de tanto caminhar se encontra com uma realidade: a realidade do silêncio. 

Mas como? Como é que num Mundo tão ruidoso, a única coisa que se pode encontrar é o silêncio? Mas esse silêncio, não é um silêncio qualquer, pois é o silêncio no qual se encontra a Paz, onde se encontra o Silêncio, o Deus que vê em segredo e fala no silêncio. 

É um silêncio que faz cantar, um silêncio contemplativo que leva o corpo e a mente a um encontro, um encontro que não se faz pelo sentido, mas pelo coração. É esse o silêncio...

Porém, a experiência do silêncio pode ser aterradora, pode dar a sensação de vazio, de incompreensão, de emudecimento... pode ser uma experiência difícil!!!

Para Aristóteles, «o homem solitário é uma besta ou um deus», já para os místicos renano-flamencos o estar «solitário é estar numa plena comunhão, cheia de vida e de esperança». Enfim... 

Gosto da ideia de que uma coisa é a solidão, outra é o isolamento. O homem é um ser sociável, relacionável, precisa de gente - nem que seja aquela gente que se cruza no metro, mas não fala -, precisa de companhia, de experiência de relação, ou nas palavras de Hegel, o homem é "Be-in-Beziehung" (Ser-em-relação). 

Escutar o silêncio é perceber a relação do Eu com o Outro, é entender que o silêncio é um lugar onde Deus fala, onde Deus está e o homem quer estar. Só aí, no silêncio não isolado, podemos buscar o OUTRO. 

Por isso, nos admiramos ao ver como é que um monge pode ser feliz! Porque encontra no silêncio a forma de relação com o Mundo, por Cristo, através da oração e da contemplação silenciosa.

Não deixemos que o silêncio seja ensurdecedor, que nos escravize e afaste. Não deixemos que um 'dia cinzento' nos leve ao isolamento, à tristeza imerecida e nos aprisione. Se o silêncio não é libertação, é masmorra!!!

Pax Christi!

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