Política «em saída»

«Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão».

Papa Francisco às escolas jesuíticas | Junho de 2013

Não sou de fazer comentários políticos, muito menos de comentar os políticos do país, como sabem se acompanham este blog. Porém, quero deixar aqui a minha reflexão sobre o que se tem passado no nosso país. 

Graças a Deus, a chuva - leve, mas persistente - veio para ajudar no combate aos incêndios. É de lamentar a calamidade mas, mais uma vez aqui digo, é de lamentar, muito mais, a falta de cuidados que se tem vindo a notar, no que toca às populações e aos terrenos afectados pelos incêndios. 

Tudo bem... o aquecimento global, as alterações climáticas, o calor fora de tempo pode ser um dos motivos, porém, não são estas as condições que ateiam um fogo às 23h. Alguém tem de ser culpado pela catástrofe de hectares e hectares de zonas florestais devastadas pelo fogo, pelas dezenas de mortes, pela falta de meios de combate, etc.

Todos achamos que o Presidente da República é uma figura representativa e que não tem poder nenhum sobre estes casos. É um erro... o Presidente da República possui poderes suficientes, segundo a Constituição da Republica, para intervir: demissão do governo ou, ainda mais radical, dissolver a Assembleia da República. 

Porém, nenhum usou tais poderes porque, de uma maneira ou de outra, arranjaram-se estratégias para arranjar o que está mal, aquela faculdade tipicamente portuguesa do «Desenrasque». Mas, quando há mortes, quando há hectares de terra em causa, não há «desenrasque» possível. Então demite-se!

Quando o Primeiro Ministro não conseguiu aprovar um Plano de Estabilidade e Crescimento, demitiu-se; quando uma Ministra da Administração Interna não conseguiu dar resposta e explicação, demitiu-se. Mas acaso não foram eleitos para o bem e para o mal? Será que só foram eleitos para apresentar o crescimento do PIB em 0.04% num ano? Para apresentar gráficos de crescimento da taxa de desemprego em Portugal? 

Não pode ser, lamento! Não se pode fugir das consequências, caros senhores políticos! Não se pode demitir porque não se tem respostas? Porque é que o sucessor do demissionário tem de suportar o legado desastroso? Lamento, senhores políticos... 

Como diz o povo, e bem: «Quando a esmola é grande, o pobre desconfia». Tudo é bom até falhar, tudo é um mar de rosas, até se chegar aos espinhos e, por fim, toda a «geringonça» é boa, até falhar. 

O Presidente Marcelo - confesso que não sou da sua cor política - mas tem surpreendido, pela positiva, talvez inspirado pelo Papa (não sei!) e apostou numa política de encontro, de ir e de estar com aqueles que precisam. Sim, foi o que fez em Pedrogão Grande e foi o que fez estes últimos dias, já outros políticos preferem o conforto do gabinete e dizer umas 'balelas' aos jornalistas condenando governo e aproveitando para fazer um bocadinho de campanha. 

Onde está, senhores políticos, a defesa dos portugueses, dos interesses populares, a defesa do país, da pátria? Será que isso só se verifica nos gráficos? Só se vê isso nas discussões e ataques políticos? Pois é... parece que sim! Enquanto isso, casas ardem, povos destroçados, áreas florestais ardidas, famílias inteiras mortas, etc... 

Saiam dos gabinetes, vão ao encontro do povo que dizem defender. Como podem defender quem não conhecem? E não, não vão só para as ruas nos dias da campanha eleitoral, mas todo o ano. Perguntem, questionem, observem o povo que representam... Por fim, não atribuam culpas nem joguem à «batata quente» para ver quem tem a culpa, mas avaliem e ajudem que precisa e, por favor, tenham mais respeito por quem sofreu tanto nestes últimos dias. 

A nós, cristãos, resta-nos ser uma voz profética, descontente e inconformada perante tais situações de injustiça e de catástrofe. 

Rezemos a Deus, para que ilumine a vida política, para que seja um verdadeiro serviço ao povo, rezemos, ainda, pelas vítimas dos incêndios e peçamos ao Criador que nos dê as condições necessárias para a reflorestação da área ardida. 

O Papa diz que gostava de ter uma «Igreja em saída e de encontro» e eu digo que gostaria de ver mais uma «política de saída ou de encontro». 

Pax Christi!

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