(Im)Pessoalidade

Estes dias, aqui por Lisboa, têm havido uma série de eventos, um deles e o mais falado, o WebSummit, tem atraído milhares de participantes que vão ficando apaixonados pelo nosso país e ainda bem. 

Mas, ontem, parece ter sido um dia importante - pelo menos os meios de comunicação fizeram grande notícia -, pois, pela primeira vez na história, a Sophia deu entrevistas e saiu à noite. Não conhecem a Sophia? Não, não é a Sophia de Mello Breyner. 

Sophia - assim lhe chamam os cientistas - é um robot com inteligência artificial (IA), que ainda não tem capacidade de locomoção, mas que virá a ter. Então, a Sophia deu uma entrevista. 

Apesar do criador do projecto ter falado muito bem dela, a Sophia não falou muito e limitou-se a responder clara e sucintamente às perguntas que lhe foram colocadas durante o evento. 

Mas a notícia que me chegou (e isso não se vê no vídeo) foi que Sophia terá dito que, «no futuro, espera ficar com os empregos do Ser Humano» e o seu criador quase que aplaudia, de tão entusiasmado que estava, estas ideias. 

Eu sei que sou um bocado retrógrado em relação a estas coisas e que a minha visão é um bocado atrasada no que toca a estes desenvolvimentos, mas não será isto um mal para a nossa sociedade? 

Vejamos Portugal: a taxa de desemprego é alta, as pessoas necessitam de ter trabalho para poderem sustentar a família e agora deixarão de haver empregos, porque os robots irão ocupar os empregos dos humanos. Que irão fazer aos humanos? 

Imaginem, ainda, a nossa chegada a uma repartição da segurança social e termos de explicar a um robot que precisamos de um subsídio para alimentar a família... Se não estiver na base de dados a compaixão, Sophia negará um subsídio e a família morrerá à fome! 

Os senhores cientistas que me desculpem, mas eu gosto de pessoalidade, isto é, de contactar com a gente, de saber o que motiva esta ou aquela pessoa a fazer isto ou aquilo, a tomar esta ou aquela decisão. Desculpem-me, senhores cientistas, mas eu gosto de falar e que me respondam com sentimentos e não porque a base de dados já tem a resposta. Desculpem-me, senhores cientistas, mas gosto saber que as pessoas têm empregos dignos, salários dignos e condições para manter famílias. 

Num mundo em que a tecnologia já torna tudo tão artificial, tudo tão informático e quase sem laços humanos, não gosto de saber que daqui a um tempo teremos que lidar apenas com máquinas, com robots, ainda que com Inteligência Artificial.

A pessoalidade é essencial ao homem, os empregos são essenciais ao homem, não queiramos tornar as coisas impessoais.

Não façamos dos robots o futuro, mas tratemos das pessoas no presente para que, no futuro, hajam pessoas e não robots. 

Perdão aos cientistas, o que fazem é meritório, mas a ciência devia estar ao serviço das pessoas e não ao contrário. É a minha opinião.

Comentários